Estamos acostumados a ver no cinema super-heróis combatendo criminosos, defendendo cidades de ataques terroristas e até mesmo defendendo nosso planeta contra as invasões alienígenas. São super-homens com seus super poderes ou trajando seus uniformes e apetrechos que lhes dão outros tantos poderes, transformando-os em seres importantes que vivem acima da humanidade. Mas, um verdadeiro herói prefere ficar no anonimato mesmo tendo desempenhado papel importantíssimo tomando decisões que, na vida real e sem efeitos especiais, salvou vidas não permitindo que uma catástrofe nuclear fosse iniciada e que provavelmente destruiria parte ou totalmente nosso mundo.
Stanislav Petrov nasceu em Vladivostok em 7 de setembro de 1939. Seu pai, Yevgraf, era piloto de caças, atuou na Segunda Guerra Mundial e sua mãe enfermeira. Em 1972, formou-se na Faculdade de Engenharia da Força Aérea Russa, visando seu ingresso na Força Aérea de seu país seguindo os passos de seu pai. Logo que se alistou, passou a designar o papel de organizador e supervisor do recém lançado sistema de alerta antecipado destinado a detectar possíveis ameaças de misseis balísticos.
Como Tenente-Coronel, Stanislav Petrov, estava
lotado como oficial do dia na vila militar perto de Kurilovo em Moscovo, local
do centro de controle ocidental para os satélites russos,
denominado bunker Serpukhov-15 no dia 26 de setembro de 1983 em plena
Guerra Fria. Na ocasião, os soviéticos haviam atingindo um avião Boeing 747
sul-coreano, derrubando e matando 269 pessoas abordo e aumentando a tensão
mundial que já era extremamente forte e muito próximo de uma guerra. As tarefas
de Stanislav consistiam, primordialmente, na observação da rede de alerta
preventivo por satélites e notificar aos seus superiores qualquer anormalidade,
principalmente se tais anormalidades, envolvessem ataques com mísseis nucleares
contra a Rússia. Caso esta ocorrência fosse verdadeira, imediatamente uma
retaliação seria disparada, pois esta era a estratégia Soviética de
contra-ataque, visando pagar com a mesma moeda do ataque do inimigo que, na
época, era principalmente os EUA de acordo com a doutrina da Destruição Mútua
Assegurada (1).
Então, pouco após da meia-noite, os
computadores do bunker indicaram que um míssil lançado pelos EUA estava a
caminho da União Soviética. Havia dúvidas quanto a veracidade de tal lançamento
já que, provavelmente, o inimigo (EUA) não lançaria apenas um míssil se
quisesse realmente atacar ou destruir os Russos, concluir num raciocínio lógico
o Tenente-Coronel Stanislav Petrov. Sabia-se que não havia confiança no sistema
por satélite que fora questionada por inúmeras vezes. Por isso, Stanislav,
tomou a decisão de considerar como alarme falso, concluindo não haver qualquer
ameaça a sua nação naquela noite. Diante de seus inseguros e apavorados
colegas, ele tomou a decisão certa.
Para a sorte do mundo, Stanislav Petrov era o único oficial
naquela sala diante dos monitores que tinha formação civil. Todos os outros
eram simplesmente soldados “ensinados a dar e obedecer a ordens”, como disse
Stanislav anos depois e, certamente, relatariam os dados acusados pelos satélites,
sem um raciocínio lógico, aos seus superiores.
Porém, alguns minutos depois da feliz
decisão de Stanislav, os computadores emitiram vários alertas acusando outros
quatro mísseis. O Tenente-coronel Petrov continuou seguindo sua linha de
raciocínio analisando tais alertas. Petrov manteve sua calma e raciocínio,
embora não tivesse fontes de informações para confirmar suas suspeitas de que a
falha no sistema estaria enviando relatórios errados. Se ele estivesse errado
nas suas conclusões e até que o radar terrestre dos Russos pudesse detectar
tais mísseis, seria muito tarde para lançar qualquer retaliação e a destruição
seria eminente. Certamente Petrov vivia um momento difícil diante daqueles
computadores, ainda mais com a pressão da crise (Guerra Fria) que passava o
mundo naquela época, onde qualquer acontecimento poderia deflagar uma guerra entre
as duas nações mais armadas de nosso mundo. Porém, Petrov decidiu confiar em
sua intuição, declarando que tal alerta era uma falha, um alarme falso. Fato comprovado
segundos depois, pois nada acontecera de anormal.
Por incrível que possa parecer, naquela noite, não estava
agendado para Petrov prestar serviço naquele setor. E assim, se não estivesse
lá, certamente, um outro oficial estaria no comando e tomaria decisão contraria
e aí, minha gente, só Deus sabe o que poderia acontecer com o mundo.
Algumas analises e testes foram feitas nos computadores e no
novo satélite e a conclusão final foi de que o alarme fora provocado realmente
por uma falha do satélite que havia considerado o reflexo da luz solar em nuvens
como lançamento de mísseis contra a União Soviética.
Mesmo tendo evitado um
desastre nuclear, Petrov sofreu intenso questionamento de seus superiores. O
exército Soviético alegou que ele desobedecera e desafiara as ordens contidas
no protocolo militar. Seus superiores o classificaram como um oficial militar
não confiável. Aparentemente o exército russo não o puniu, porém deixou de
reconhecê-lo e honrá-lo.
Na verdade, a atitude e
ações racionais de Petrov, mostraram ou confirmaram as imperfeições de um sistema
de defesa militar soviético. Tal falha comprovara que o alto escalão militar defensores
da Rússia, haviam investido uma quantia alta num sistema falho e capaz de
confundir-se com raios do sol refletido em nuvens.
Embora declarassem que não
haviam punido Petrov, o comando aplicou-lhe uma advertência por ter
oficialmente arquivado impropriamente o acontecido naquela noite. Seus
superiores o rebaixaram para um posto inferior e por fim foi retirado do serviço
militar.
Por longos anos tudo fora
mantido em segredo. Em 1998, um de seus comandantes,
relata o caso a um certo ativista político alemão que assim faz o mundo
conhecer a história de Stanislav Petrov no final da década de 90.
Em 2004, a Association Of
Word Citizens, reconhecendo seu heroísmo ao evitar uma catástrofe nuclear,
outorgo-lhe o prêmio World Citizen Award e a quantia de US$ 1.000,00. Em 2012,
Petrov recebeu um Prêmio Alemão de Imprensa. O mesmo fora também dado a Nelson
Mandela, Dalai Lama e a Kofi Annan. Em 2014 um documentário estrelado por kevin
Costner baseado na vida militar de Stanislav Petrov foi ao ar com o título “O
homem que salvou o mundo”.
Sequencias
dos acontecimentos segundo Stanislav Petrov ao responder perguntas sobre o incidente:
“À
minha frente estava um painel brilhante, com letras vermelhas, dizendo que o
computador tinha detectado sinal de mísseis.
Olhei
para a minha equipe e percebi que eles estavam em pânico.
Os
homens a minha volta foram ensinados a dar e obedecer a ordens.
Olhei
para o painel de novo e ainda dizia que o míssil tinha sido lançado e que a
probabilidade de ataque era 100%, e, para um computador, prever uma
probabilidade de 100% é simplesmente impossível.
O
número deveria ser um pouco menor, haviam 28 ou 29 níveis de segurança no
sistema e, depois de o alvo ser identificado, teria de passar por todos esses
pontos de segurança. Então aquilo era inacreditável. Isso foi o grande motivo
da minha dúvida.
Se os
americanos tivessem mesmo decidido lançar um primeiro ataque, teriam enviado
mais de cinco mísseis.
Eu
tinha que pensar rapidamente. Cada segundo era crucial para a resposta militar
da União Soviética. Eu sabia também que ninguém seria capaz de corrigir o meu
erro se eu estivesse errado.
Liguei
para meus superiores e disse que o alarme era falso. Nesse mesmo instante, o
alarme tocou de novo e veio um novo aviso vermelho. Eu ainda estava falando com
eles e disse que havia um novo alerta, mas que também o considerava falso.
Eles
aceitaram o que eu disse e desligaram. Logo a seguir, chegou um terceiro alerta
informando que havia mais um míssil a caminho, depois outro, e mais outro. E
então, chega uma outra mensagem afirmando um ataque de mísseis.
Não
queria ser o responsável pelo início da Terceira Guerra Mundial.
Tive
que manter tudo em segredo, não pude contar nada nem à minha mulher, só lhe
contei 10 anos depois. Vocês deveriam ter visto a cara dela!
Não
acho que tenha feito algo extraordinário, era apenas um homem a fazer o seu
trabalho de forma correta. Era o meu trabalho".
Stanislav
Petrov morreu em Fryazino, União Soviética aos 77 anos no dia 19 de maio de 2017 devido à
uma pneumonia; silenciosamente como havia salvo nosso mundo em 26 de setembro
de 1983.
“Estava
no lugar certo, na hora certa” - Stanislav Petrov
Graças
a Deus!
Fontes: Wikipédia e Zap
Texto e Pesquisa:
Renato Galvão
[1] Uma doutrina de estratégia militar onde o uso maciço de armas
nucleares por um dos lados iria efetivamente resultar na destruição de ambos,
atacante e defensor. É baseada na teoria da intimidação da qual o
desenvolvimento de armas cada vez mais poderosas é essencial para impedir que o
inimigo use as mesmas armas. (Estratégia desumana e completamente imbecil -
Nota do Colunista)
Comentários
Postar um comentário