“Quando o Corpo Quebra, o Coração Aprende”... (inspirado em “Crash and Burn”, do Savage Garden -1999) por Alexandre Clayton Zocarato
O silêncio do pronto-socorro era quase uma provocação. Entre o zumbido das luzes fluorescentes e os gemidos abafados, havia um homem sentado, as mãos entrelaçadas no colo, com o jaleco dobrado sobre os ombros como quem carrega uma vergonha. O nome no crachá: Dr. Érico Amaral. Era ele, o cirurgião de renome que vira seus dedos tremerem na última operação. Os anos de precisão haviam sido substituídos por lapsos mínimos, mas fatais. "Fadiga", diziam os laudos. "Ansiedade", murmuravam os colegas. Ele mesmo não sabia — só sentia o peso. Desde o acidente de Júlia, sua esposa — um atropelamento idiota, num fim de tarde chuvoso —, a vida entrara em suspensão. O corpo dela sobrevivia, vegetando, e ele sobrevivia com ela. Um casamento em coma, a vida anestesiada. Ele pensava em desistir. Não da profissão apenas — mas do todo. Não havia ninguém para dizer que tudo ficaria bem. Nenhum aviso celestial. Nenhuma salvação médica. E foi nesse cansaço que conh...