Tiros, Tempo e Travessuras: Uma releitura da diversão através de Um Tira da Pesada 4

 

A franquia comédia- policial, Um Tira da Pesada, é uma mistura entre ação e diversão, que vão desde o sentido hilário que o detetive Axel Foley (Eddie Murphy), faz ao zombar de tudo e todos, demonstrando que a lei, em determinados momentos não deve ser levada tão a sério, como também, que não existe uma idade certa para se aceitar novos desafios.

É quase que, “uma normose”, para sua atuação a zombaria escrachante, como uma artimanha também de elucidar uma concentração e luta contra o racismo, e também realizar, uma apresentação e demarcação existencial, dentro do mundo de entretenimento, que assim venha a construir um cunho de subjetividade em desafiar o poder,  “dos brancos”.

No primeiro filme de 1984, indiretamente se traça uma forte assimetria de caminhar entre comédia e a crítica social, lembrando um pouco as aventuras literárias de Chester Himes, quanto a usar um estereótipo artístico do marginalizado, em  demonstrar tanto a ascensão do negro dentro da sociedade norte-americana, como a embarcar num sentido de argumentar contra o sistema policial, que tece caminhos para uma dialética de segregação dos direitos iguais,  entre brancos e negros.

Já no segundo filme de 1987, há um tecido de critica quanto ao poder e acesso do uso de armas pelos cidadãos, que indiretamente alimenta, uma concentração de armar uma população que, automaticamente pode se voltar contra a legalidade do poder de Estado, gerando um caminho de distúrbios para a  manutenção da ordem social.

Há também uma crescente deliberação quanto, ao papel da mulher dentro da sociedade voltada na vilã interpretada por Brigitte Nielsen, quanto a ocupar uma posição de gênero dentro do mundo das armas, algo que praticamente é  exclusivamente ao universo masculino, em torno dos filmes de pancadaria e tiroteios.

Quanto ao terceiro filme, (o mais frágil de público), transcorre uma forte comiseração, quanto ao que pode ser considerado, como diversão  para manipulação da realidade dos fatos,  deixando  esgarçado caminhos, para um empirismo,  em como se enxergar o papel da violência de maneira,  “intra – cinematográfica” segundo as palavras de Massimo Canevacci, ou seja colocar, um sentido epistemológico de analisar o conteúdo do cinema dentro do próprio cinema.

Isso lança luz perante,  para uma gama de disseminação intelectual, “quanto ao que seja efêmero”, ovacionando o pensamento filosófico de Gilles Lipovetsky, quanto ao que se praticar em torno de  um cunho cinéfilo  de doce nostalgia cômica, mas concentrando intrinsicamente, temas que vão direto ao centro de uma crítica ao sistema norte- americano de como se  viver e entreter.

Murphy faz uma abordagem de interpretação, perante as suas  recordações, trazendo uma redescoberta do seu personagem dentro de,  “uma margem proustiana”, perante polivalentes formas de narrativas, que vão da seriedade a comicidade, em questão de segundos.

Tanto que dentro do sentido teleológico, está o fortalecimento de antigos laços de amizades com seus parceiros Billy Rosewood (Judge Reinhold) e John Taggart (John Ashton),

A amizade, como a questão da sua  paternidade com sua filha Jane (Taylour Page), entrelaça caminhos para uma identificação cinematográfica, perante aonde espectador, é alojado para uma ludicidade, entre adquirir responsabilidades familiares, ou ficar vivendo sempre como um eterno adolescente.

Foley,  entra em uma tangente filosófica, submetida a uma recordação da, “teoria de massificação de Hannah Arendt”, perante não se encaixar dentro de um núcleo de controle de formação da inteligência submetido ao tradicional modelo familiar, mas também, esgaça, uma mistagogia de construções  das virtudes, entre estar atrelado, “a malandragem das ruas”, com suas experiências diante o mundo do crime organizado.

Ou seja, não se encaixa dentro do cunho de estar com sua humanidade sendo introvertida para corrupção, porém como deixa claro, “nem sempre esteve do lado da lei”, sendo necessário estar alicerçado as suas sutilezas, criticando um sentido de burocracia, quanto a vir a se fazer justiça.

Uma justiça, que encontra a transgressão dentro do que seja legalmente, “Penal, e também de crítica quanto aos atributos legais de Estado”, o que se desencadeia uma questão de crítica quanto a respeitar seu espaço público como o privado, enaltecendo que para se chegar a cumprir as diretrizes outorgadas pelo Estado Democrático de Direito, em muitos momentos é de práxis,  colocar inocentes em perigos para cumprir com seus objetivos, o que leva a  um caminho de liberdade de garantia da ordem pública que seja em determinados momentos, “um cabido de fazer da condenação de alguém, algo voltado para seu julgamento particular, não estando dentro das simetrias legais”, como diria o criminalista e penalista brasileiro Cézar Roberto Bittencourt.

O cinema de ação dos anos de 1980 construiu a imagística de homens temperamentais, que não pestanejavam em usar do poder das armas, e  da destruição para conseguir chegar até seus objetivos.

Nisso temos exemplos de John McClane (Bruce Willis, em Duro de Matar), Martin Riggs e Roger Murtaugh (Mel Gibson e Danny Glover, em Máquina Mortífera), Marion Cobretti (Sylvester Stallone em Cobra), que continham muita ironia, mas um  ótimo olfato para destruição (e também para entreter o público), construindo um escopo mental em  fazer  cada pessoa se imaginar em ser um policial, e conter no poder de uma arma, os elementos necessários para sair do, “sentimento efêmero”, em ser somente mais um,  entre tantos, para chegar a uma ornamentação, de que é necessário um gosto de sangue para satisfazer suas vontades mais sombrias.

Saindo do sentido de policiais, que levam seu dever a ferro e fogo, podemos também colocar no sentido de não estar apropriado para as entravas empíricas da lei, temos Chuck Norris, e o justiceiro Paul Carsey, da serie de filmes Desejo de Matar estrelado por Charles Bronson, ou Dirty Harry de Clint Eastwood, que coloca elementos de signos sanguinários,  de que bandido bom é estar sendo encaminhado para sete palmos abaixo da terra.

Dentro de uma análise do discurso, esses filmes policiais, a violência quase que gratuita, está relativamente distante da coreografia fílmica de comédia de Foley, que sabe colocar dentro de um mesmo ângulo analítico,  maneiras de interpretações que contém uma pitada de humor negro, como a elevar uma condição humana, de pessimismo quanto ao prosseguimento de cânones, entre se fazer o certo e se deixar levar por seus impulsos pessoais, no que se diz tangente à conservação de um, “espaço público”, que possa vim a trazer um equilíbrio satisfatório para a sociedade civil.

A franquia de Um Tira da Pesada traz uma comicidade, que concomitantemente reúne a questão de estar envolvida em disseminar diversão para toda família, como também entra em esfera fenomenológica, em sucintos lampejos em se desafiar a “morte”.

Uma, “morte”, que é engajada, tanto dentro das estruturas de explosões frenéticas,  em realizar do cinema de ação, o sentimento de vim a desafiar um trato ideológico, dentro do que esteja estabelecido como sendo algo tecnicista do cotidiano, e assim mostrando que muitas pessoas partem para o sentimento de um existencialismo barato, e por que não dizer mecânico quanto a possuir algum tipo de consciência perante os desafios, em se arquitetar laços de relações interpessoais, que não estejam estritamente focado ao trabalho.

Talvez essa seja um grande desafio moral, para o detetive Foley.

Adentrar em um mundo, que acostumou a ter suas vontades de diversão feitas a todo o custo, (e que não importa o quanto isso venha a trazer de sofrimento para as pessoas), mas sim estar sendo sublime, dentro de uma pedagogia de movimento de atuação a causar o conflito no,  “olho do observador”, que assim tente entender dentro de si mesmo o que vai retroalimentar, na sua aderência de encabeçar novas formas e maneiras de se relacionar dentro do seu espaço existencial.

Dentro do sentido de, “imagem – movimento”, de Gilles Deleuze, Foley, dissemina uma semântica de se lutar sempre contra uma aglutinação neurológica, em ver a vida, não como sendo uma grande piada, mas sim em fazer entre explosões e tiros, um sarcasmo em procurar dar uma orientação da sua prória percepção perante o que seja viver, morrer e entreter.

É necessário um procedimento analítico cartesiano em enxergar, que mesmo dentro da comédia, está a obrigação em se manter a lei, mesmo que para isso seja necessário transgredir todos os tipologias de conduta, que venha garantir o equilíbrio entre o privado e o particular.

Nesse caminho, Foley,  entra dentro de um ciclo comportamental que submete a um campo de questionamento que esteja formalizado, em torno dos princípios “foucaultianos”, perante um cinismo em ter que cumprir com seus sortilégios, em pegar, quem procura, mesmo que para isso seja outorgado a práxis de  um sentimento logrado de zombaria da lei.

A lei, que dentro de sua quadrilogia, também tece um teor de critica ao classicismo, de como a sua  abordagem é feita dentro dos Estados Unidos, gerando minutas de um sentimento de desconfiança, durante um caminho de exaltação da solidão, do “tira obstinado”, que não  descansa até conseguir seu objetivo, e que também evoca seus laços afetivos, que são construídos dentro da espacialidade de sociabilidade de seu emprego.

Tanto que umas das grandes críticas inseridas, dentro do  seu "script", é o relacionamento difícil do protagonista com sua filha, da qual vive afastado, servindo integralmente como um pano de fundo, para se pensar dentro de um campo da “sociologia do trabalho”, que visa o “lucro para diversão gratuita sem taxação do limite de idade, “advindo de certa alienação e afastamento e exclusão social”, como alerta o pensador e sociólogo Harry Braverman.

Uma Tira da Pesada Quatro, além de promover uma viagem pelo tempo, trazendo,  “um retrô” de atitudes e comportamentos típicos da década de 1980, também não deixa de elaborar uma audição, em vir colocar á tona, temas musicais, que fazem seus apreciadores, entrarem em viagem atemporal tanto mental como corporal, chegando para um psicodelismo, de sair, “um pouco”, de ditames, do esmero jubilar, do labor, em estar centralizado. Seu, “eu”, em torno da tecnologia, se distanciando da virtude principal do cinema, que é divertir e instruir.

Nesse caminhar de instrução da diversão, Murphy não exalou aspectos de um discurso direto sobre racismo, mas não deixou de ter adereços de uma contribuição em deixar uma informação implícita quanto aos perigos que a profissão de ser policial traz, sendo ele afrodescendente.

Já no que é tangente a sua “ação”, sua marca registrada de sarcasmo misturado até com certo,  “humor negro”,  viabiliza um dinamismo de expurgar, que,  “a ação”, tem que ser outorgada quase que por um banho de sangue gratuito, não havendo um contraste de vir a colocar uma taxação de limite da idade que possa assim, vim a apreciar seu trabalho cinematográfico.

Jean Paul Sartre, “dizia, que para uma existência conter viabilidades de vir ser apreciada, é necessário de inicio olhar sua própria existência em torno dos seus atos”, Um Tira da pesada 4, é uma mistura de irreverência jovem, de um Axel Foley “com síndrome de Peter Pan”, como também insere, uma autoanálise do seu personagem, que vai crescendo em se fazer notado, mas também, que coloca como um fator psicológico em garantir um  bom-humor, mesmo perante os desafios de ter que encarar a morte a cada instante, e sabendo os riscos que suas ações, (“as vezes inconsequentes”), geram riscos, tanto para seu equilíbrio psíquico, de sua entalpia emocional, ebulindo em uma explosão de adrenalina em busca do anseio em estar sempre dentro do limite, como também em buscar um conscientização em si mesmo que seu tempo de grandes aventuras está se esgotando e é necessário parar, e apreciar a passagem de Cronos como qualquer outra pessoa comum.

Foley, não é comum, e não faz muita questão em demonstrar querer ser comum, sendo um,  “bon vivant”, da emoção perigosa, que o traz para um sentimento de curtir e viver a vida, de maneira solta, mas sempre sendo um sujeito da pesada, irado e amado, mas nunca parado, repletos de tiros e travessuras, aprendendo a desenvolver uma ternura, longe, de conjecturas falsas, e adereços métricos comportamentais cínicos.

SOBRE O AUTOR

Clayton Alexandre Zocarato


Possui graduação em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Central Paulista (2005) - Unicep - São
Carlos - SP, graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano (2016) - Ceuclar - Campus de São José do Rio Preto – SP.. Escrevo regularmente para o site www.recantodasletras.com.br usando o pseudônimo ZACCAZ, mesclando poesia surrealista, com haikais e aldravias.. Onheça mais do autor!

·                  Email: claytonalexandrezocarato@yahoo.com.br

·                  Instagram: Clayton.Zocarato


Clayton Alexandre Zocarato faz parte do programa "Escritores de Sucesso" faça partetambém deste programa do Jornal e Editora Alecrim.

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