Tecnologia, Ilusão e a Luz dos Insights
A tecnologia nos prometeu
aproximação. E, de fato, ela aproxima quem está distante. Mas, paradoxalmente,
também distancia quem está perto.
Vivemos tempos em que a ilusão — a
ausência de luz — parece ter vencido os insights, que são pura luz. Cada vez
mais, percebemos que as pessoas evitam ouvir verdades. Não porque as verdades
sejam cruéis, mas porque ameaçam destruir as ilusões que muitos se esforçam
para manter vivas.
Nesse cenário, a percepção aguçada, o
brilho dos insights, está entrando em desuso. Já não é mais prioridade ver além
das aparências. Por isso, é urgente refletirmos: estamos vivendo mergulhados na
ausência de luz, alimentando ilusões, ou estamos cultivando a capacidade de
colocar luz onde antes havia escuridão?
O cérebro humano, em sua essência,
preocupa-se apenas em garantir a sobrevivência. Ele não se importa se você é
feliz ou triste; ele apenas acredita naquilo que você acredita. Essa
simplicidade nos torna extremamente vulneráveis aos ambientes e conteúdo que
consumimos.
Hoje, com a apropriação do nosso
emocional por meios artificiais, surgem novas questões: até que ponto aquilo em
que você acredita é, de fato, o que você deseja? Ou será que estamos apenas
consumindo subjetividades fabricadas, permitindo que a tecnologia viva a vida
em nosso lugar?
Essa trajetória não começou agora. No
início, lá nas cavernas, nossa sobrevivência dependia de ferramentas
rudimentares — como uma vara de pau para alcançar frutos. Mais tarde,
aprendemos a substituir a força dos nossos músculos: a roda, os animais domesticados,
como o cavalo, trouxeram mais mobilidade e, com ela, mais tempo.
O passo seguinte foi substituir e
potencializar nossos sentidos: os óculos, os binóculos, o telescópio — todos
ampliaram nossa percepção. Depois, com o advento do computador, começamos a
delegar também parte da capacidade de cálculo e análise.
Agora, atravessamos um novo e
delicado estágio: o domínio do campo emocional. A tecnologia já não apenas
facilita a vida — ela a substitui. Antes, o celular era uma ferramenta prática.
Hoje, é mais uma fonte de prazer do que de necessidade. Pergunte-se: você anda
de avião porque precisa ou porque adora? Você usa o celular porque precisa ou
porque ama usá-lo?
Essa é a chave: a tecnologia, a
partir da subjetividade artificial, vem estudando cada vez mais como movimentar
nossas emoções e moldar nossa individualidade.
Estamos diante de um alerta máximo.
A vigilância sobre nossa própria
consciência é urgente. O futuro pertence àqueles que conseguirem manter acesa a
luz dos próprios insights — sem deixar que a ilusão assuma o controle.
Renata Gaia - Responsável pelo espaço Gaia de Luz em Nova Friburgo - Psicanalista - Especialista em comportamento humano - Estudiosa da Neurociência do dia-a-dia |
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