Entre Ecos e Silêncios Um conto social pós-modernista sobre amor e desamor, juventude e maturidade, com toques da cultura pop - por Clayton Zocarato
Entre Ecos e Silêncios
Um conto social pós-modernista sobre amor e desamor,
juventude e maturidade, com toques da cultura pop
Aurélio sempre chegava cedo àquela
praça cinza da cidade que parecia engolir os sonhos.
Seus fones abafavam o mundo,
mergulhado nas notas melancólicas de “There
Is a Light That Never Goes Out”, dos Smiths, enquanto seus olhos procuravam
Luciana entre as sombras. Ela, com a pele tocada pela luz de um céu pálido,
rabiscava versos em seu caderno — palavras que não encontravam saída, igual
àquela ausência de voz entre eles.
Eles eram dois universos paralelos
presos em órbitas silenciosas, uma constelação esquecida num céu urbano
saturado de neon e fumaça.
Não haviam gritos, nem promessas —
só o peso das palavras que nunca foram ditas, de sentimentos guardados em
cofres pelo medo do desamor.
Luciana gostava de Lana Del Rey,
aquela tristeza doce, quase uma eleita para amores que se desfazem em fumaça.
Aurélio, gostava dos Smiths, cantava
silencioso seu desespero por algo que não podia ter — um amor impossível, não
por falta de vontade, mas porque os fantasmas do passado arrastavam suas
sombras, impedindo-os de se tocar.
Entre eles, a música era a ponte que
os conectava sem que precisassem dizer uma única palavra.
Cada verso de “Young and Beautiful” era uma prece muda, uma esperança tênue de
que o amor sobrevivesse às cicatrizes do silêncio.
E, ainda assim, amavam-se. Amavam-se
no espaço invisível entre dois olhares que não se encontravam, amavam-se na
distância dolorosa de quem teme perder o pouco que tem — o contato tênue, a
proximidade dos corpos, a promessa não feita.
Mas o amor, esse poeta cruel, dança
no fio da navalha entre a entrega e a fuga. Aurélio
e Luciana viviam esse jogo silencioso — abraços que não eram dados, toques que
não viravam pele, suspiros que nunca ecoavam.
O tempo naquelas ruas parecia
espiral, girando sobre si mesmo, levando junto as esperanças e os sonhos
efervescentes de Aurélio e Luciana.
Eram jovens demais para entenderem o
que carregavam no peito, mas intensos demais para ignorar.
A juventude deles era um hino de
loucura — uma playlist de Arctic
Monkeys, The Strokes e Tame Impala, trilha sonora dos dias em que
acreditavam que o mundo podia ser só deles.
Aurélio via em Luciana a promessa de
eternidade, mesmo que silenciosa, mesmo que oculta.
Ela era a brisa que acalmava seus
medos e a tempestade que sacudia suas certezas.
Eles caminhavam lado a lado, às
vezes tão próximos que os ombros quase se tocavam, mas sempre havia uma
distância invisível, um abismo feito de inseguranças e silêncios que os
separava.
Luciana escrevia cartas nunca
enviadas, poemas que começavam com “Se
ao menos eu pudesse...” e terminavam em reticências suspensas no vazio.
Aurélio respondia com canções
dedilhadas na solidão do quarto, palavras que só ele entendia, num ritual
silencioso de amor não declarado.
Naquele cenário, o amor era urgente,
mas também fugidia — um fogo que queimava e ao mesmo tempo afastava, uma chama
que iluminava e cegava ao mesmo tempo..
Era o amor pós-moderno, fragmentado, cheio de
desejos dispersos entre telas de celular, mensagens não lidas, encontros e
desencontros marcados por “visto virtual”.
Eles sabiam que se amavam, mas
também sabiam que o amor exigia mais que silêncio e olhares roubados; exigia
coragem, a entrega plena, o risco de ser ferido.
Os anos passaram, como aquela canção
lenta da Florence And The Machine, embalando um coração que aprendeu a esperar,
mesmo quando não há certeza de chegada.
Aurélio e Luciana se tornaram
sombras do que foram, guardando dentro de si uma coleção de “e se” e “talvez”.
A esperança, antes viva e vibrante,
agora era um sussurro contido nas linhas tortas dos poemas esquecidos.
O amor que antes explodia em
silêncio, agora se transformava numa nostalgia quase dolorosa — uma saudade que
aperta o peito, um vazio que não se preenche.
Ambos seguiram caminhos paralelos,
com as marcas de um silêncio que consumiu as palavras e os gestos que nunca
vieram.
Aurélio, olhando a vida pela janela
do café onde gostava de se perder, escutava "Everybody’s Got to Learn Sometime", enquanto imaginava
um reencontro que jamais aconteceu.
Luciana, nas madrugadas frias,
buscava no vinil antigo a voz de Jeff
Buckley, sentindo o peso do amor que não foi, e que talvez nunca fosse.
Entre lembranças e delírios, ambos
se perguntavam se a essência do que viveram seria apenas um eco, uma ilusão
construída sobre o medo e a espera.
Na filosofia do direito, entende-se
que o ser humano é feito de escolhas e consequências, e o amor, embora
invisível e silencioso, é uma força que molda a existência, mesmo quando não
declarado.
Aurélio e Luciana eram testemunhas dessa
verdade dolorosa — amaram e foram amados, mas falharam em traduzir seus
sentimentos em atos plenos.
E assim, entre os ecos de canções e
silêncios profundos, eles descobriram que o amor pode ser um espaço entre dois
mundos — aquele onde tudo foi sentido, mas quase nada dito.
No silêncio que sobra depois das
palavras não ditas, Aurélio e Luciana habitam um espaço onde o tempo se dobra
sobre si mesmo.
Como num refrão infinito de “Yesterday”, dos Beatles, o passado ressoa com uma beleza triste, onde cada momento
não vivido ganha a força dos sonhos perdidos.
Eles são agora personagens de uma
narrativa que não termina — um romance fragmentado, em que os capítulos se
entrelaçam na memória e na ausência.
O amor, em sua forma mais pura,
revelou-se um mistério: ao mesmo tempo presença e falta, abrigo e deserto, luz
e sombra.
A ontologia busca compreender a
existência do ser em suas múltiplas dimensões, encontra nos sentimentos de
Aurélio e Luciana a prova viva de que o amor é mais do que um ato jurídico ou
uma norma social — é uma condição humana essencial, uma essência que transcende
o tempo e a linguagem.
O desamor, por sua vez, é o espelho
onde refletimos nossas limitações, medos e o paradoxo de querer ser livre e
pertencente ao mesmo tempo.
Eles amaram silenciosamente, com a
intensidade de quem sabe que certas verdades não precisam ser pronunciadas para
serem sentidas.
Entre as ruas grafitadas da cidade,
sob a luz tênue dos postes que guardam segredos, Aurélio e Luciana caminham
lado a lado — separados e juntos — eternos amantes de uma história contada em
suspiros e melodias, onde o amor e o desamor se confundem numa dança que nunca
termina.
E, enquanto a última nota de “Love Will Tear Us Apart” toca ao
longe, eles sorriem para o vazio, sabendo que, apesar de tudo, aquele amor
silencioso será para sempre a sua melhor canção.
Possui graduação em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Central Paulista (2005) - Unicep - São Carlos - SP, graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano (2016) - Ceuclar - Campus de São José do Rio Preto – SP, Técnico em Comércio Exterior pelas Faculdades Eficaz, e atualmente cursa Serviços Jurídicos e Notoriais na Unimar. Escrevo regularmente para o site www.recantodasletras.com.br usando o pseudônimo ZACCAZ, mesclando poesia surrealista, com haikais e aldravias..Formado Especialista em Medina y Arte com ênfase em Gilles Deleuze e Equizoanálise onde é também pesquisador do Centro de Medicina y Arte de Rosário – Argentina, sendo o primeiro brasileiro a atuas nesse centro de pesquisa. Especialista em Ensino pela Ufscar, especialista em Psicopedagogia Institucional pela Fundepe – Unesp, Especialista em História da África pela Faculdade de Minas Gerais.
· Email: claytonalexandrezocarato@yahoo.com.br
· Instagram: Clayton.Zocarato
· Facebook: https://www.facebook.com/clayton.zocarato/
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