"Não Vá Ainda (Porque Eu Nunca Fui)" (Conto baseado na canção de Zélia Duncan Não Vá Ainda, 1994, dividido em 04 partes e um Epílogo). por Clayton Zocarato
Parte 1 Era um sábado qualquer de 2003, mas podia muito bem ter sido o último sábado do mundo. As luzes da danceteria piscavam no ritmo incerto da música eletrônica que vazava por caixas gigantes, misturando batidas com promessas que ninguém realmente pretendia cumprir. A fumaça artificial pairava como um véu sobre os corpos suados, que dançavam com uma urgência quase teatral — como se aquele momento precisasse ser eterno só porque ninguém ali sabia o que fazer com o depois. E foi ali, entre um refrão de Jota Quest e o arrastar de um All Star vermelho no chão gasto, que eu vi ela. Ela — com “e” maiúsculo, sempre foi. Não era musa de revista, nem protagonista de novela das seis, mas tinha um olhar que lembrava domingos nublados, daqueles em que a gente acorda tarde e ouve Zélia Duncan no fone, tentando entender se saudade é bicho que se cria ou que se mata. Ela dançava sem olhar pra ninguém, como se o mundo estivesse lá, só pra observar a liberdade com que os braços ...